Andrea Mariano - Onde a Saudade Vira Cor: O Legado Silencioso de um Pai em Cada Obra
- Marisa Melo
- há 3 dias
- 4 min de leitura
Há histórias que não se escrevem apenas com palavras, mas com cicatrizes, memórias e arte. Histórias que pertencem a todas nós mulheres que choram caladas, que se reinventam. Andrea Mariano é uma dessas Mulheres.
Neste relato íntimo, ela compartilha uma travessia dolorosa: o processo de perda de seu pai, sua maior referência, cultura e gentileza. É também a narrativa do momento em que a arte a resgatou. Andrea, encontrou no gesto de pintar um fio de luz. Através dessa história, que é tão pessoal quanto universal, ela nos mostra que a arte não salva só quem a cria, mas também quem está em volta. Porque quando uma mulher se reconecta com sua essência, ela transforma não só a sua dor, mas também o mundo ao seu redor.
Este é o registro delicado, ou melhor, a contribuição, de Andrea Mariano ao projeto História de Todas Nós Mulheres: um espaço de memória, coragem e resiliência.

Há vidas que já nascem com tinta na alma. Andrea Mariano é uma dessas almas, daquelas que carregam, desde muito cedo, uma espécie de pacto silencioso com o sensível, com a beleza do mundo e com a urgência de traduzi-lo. Nascida em Princesa Isabel, na Paraíba, Andrea é uma mulher de múltiplas linguagens: artista autodidata, formada em Direito e Enfermagem, com especializações que atravessam o conhecimento técnico e humano. É também palestrante, ocupante de uma cadeira na Academia de Letras de Princesa isabel-Paraíba e, uma defensora da força feminina e da cultura paraibana.
A trajetória de Andrea é, por si só, uma obra rara. Realista nos traços e romântica no espírito, ela habita os cruzamentos entre o saber e o sentir, entre o rigor e o delírio criativo. É como se cada uma dessas esferas que compõem sua formação lhe tivesse ensinado algo sobre o mundo, mas foi na arte que Andrea encontrou abrigo.
Desde menina, sua sensibilidade escapava por entre os dedos em forma de desenhos. As paredes de seu quarto, eram suas primeiras telas, e seu pai, um homem generoso e refinado, foi o primeiro a reconhecer ali não uma travessura, mas um talento em germinação. Foi ele quem a autorizou a sonhar. Deixava que ela pintasse livremente, oferecia livros, conversas, elogios sinceros, tudo com um olhar amoroso que dizia: “Você pode ser quem quiser”. E foi exatamente isso que Andrea se tornou: uma mulher tecida de referências afetivas.
Mas a vida, com sua precisão implacável, também ensina pela ausência. Aos 35 anos, Andrea recebeu a notícia da doença de seu pai: um câncer já havia levado parte do pulmão daquele homem que era sua grande referência. A notícia caiu como uma navalha, e o tempo, que até então parecia um aliado, passou a correr com urgência. Lidar com a certeza da morte é uma das tarefas mais devastadoras que se pode viver. Andrea mergulhou num luto antecipado, tentando estender os dias, saborear cada olhar, cada gesto, cada conversa que ainda era possível.
Foi nesse abismo que a arte apareceu não como expressão, mas como sobrevivência. A cada pintura, Andrea colocava sobre a tela o medo, a dor, a saudade antes mesmo da partida. A arte tornou-se seu idioma secreto, seu ritual de cura. Ela própria afirma: “A arte foi o meu lenço. Quando meu pai se desligou da matéria, foi a arte que me segurou. Ela me abraçou. Ela me sustentou.”
Há algo de profundamente sagrado nesse gesto: transformar a dor em arte Fazer da ausência um lugar de presença. Hoje, Andrea reconhece que muito da sua produção artística carrega seu pai, suas lições, seus silêncios, seus sorrisos diante dos desenhos que ela lhe mostrava com orgulho. Aquilo que um dia foi brincadeira, virou elo eterno.
Esse episódio, que para muitos seria a pausa de uma história, tornou-se, para ela, um renascimento. Andrea, amadureceu como artista e como mulher. Refinou seu traço, mas também seu olhar. Entendeu que a arte não é apenas técnica, mas uma filosofia de vida. Não é só o que se vê, mas o que se sente. E talvez aí resida sua maior força: Andrea cria com alma. Com entrega. Com verdade.
Hoje, suas obras são colecionadas e admiradas. Seu discurso ressoa entre mulheres que, como ela, enfrentaram perdas, recomeços e reconstruções. Andrea é uma espécie de voz que acolhe, não com respostas fáceis, mas com a presença sensível de quem também atravessou a noite escura da alma.
Sua história, marcada por coragem, nos lembra que a arte ainda é, e sempre será, um lugar de retorno. Um altar onde podemos depor nossas dores e, quem sabe, reencontrar o sentido de tudo.
Andrea Mariano é, sem dúvida, a história de todas nós mulheres. Mas é também um lembrete de que há beleza no que é real. De que há força em continuar. E que há, na arte, uma promessa silenciosa: a de que o amor verdadeiro jamais morre, ele vive, para sempre, nas entrelinhas de tudo o que criamos com o coração inteiro.
Se você também tem uma história de superação e transformação através da arte, queremos conhecê-la. O projeto "Histórias de Todas Nós, Mulheres" é um espaço para celebrar narrativas reais de força e resiliência. Compartilhar sua trajetória pode inspirar outras mulheres a enxergarem a beleza em seus próprios processos de reconstrução. Porque quando uma mulher encontra sua voz, ela abre caminhos para tantas outras. Venha fazer parte desse movimento. Sua história merece ser contada.