Entre a Forma e o Imaginário: O Processo Criativo em Fluxo
- Marisa Melo
- 11 de fev.
- 2 min de leitura
Quando a arte se desvia da forma rígida e entra no campo da abstração, ela se torna uma experiência fluida, um jogo entre o físico e o imaterial. A tentativa de capturar tudo o que a mente pode imaginar e traduzi-lo em matéria é uma tarefa que não segue um caminho direto. Há algo de imprevisível nesse processo, algo que não se deixa encaixar facilmente. A arte, como um organismo vivo, se desdobra e se reinventa a cada movimento, a cada pensamento que se materializa na tela.

O trabalho do artista vai além de uma simples manipulação de formas. A inserção do artista no mundo, a forma como ele se relaciona com o espaço e com as questões que o cercam, faz parte de uma dança constante entre a realidade e o imaginário. Cada obra carrega um pouco desse movimento, dessa busca por algo além do visível, além do nosso entendimento imediato. Às vezes, é preciso deixar que as formas se dissolvam, como a tinta que se mistura na tela, criando nuances, desafiando os limites do que se conhece, revelando possibilidades inesperadas.
Karla Lessa, por exemplo, com abordagem geométrica intensa, faz dessa busca uma declaração. Suas pinturas, ao serem colocadas em um espaço expositivo, não se limitam ao seu formato, mas criam uma relação com o ambiente. Cada obra é um fragmento do todo, mas também se afirma como singular. A geometria, que poderia ser fria e impessoal, ganha uma nova dimensão nas mãos da artista, que transforma o nanquim, o acrílico, a aquarela, entre outros materiais em algo que respira, que se ajusta ao espaço e se revela como parte de um processo contínuo.


O olhar do espectador, sempre tão fundamental, torna-se o ponto de encontro entre o mundo da arte e o mundo pessoal. A crítica, que tenta traduzir em palavras o que a arte provoca, busca encontrar o equilíbrio entre o que foi proposto pelo artista e o que foi absorvido pelo observador. Mas, na verdade, as palavras nunca são suficientes para capturar a essência completa de uma obra. O tempo entre a criação e a apreciação é um espaço fértil, que vai do átimo ao caminho longo, que vai do gesto inicial à formulação final, sempre aberto a novas interpretações.
