Em um mundo cada vez mais digital, onde a infância é moldada por telas e estímulos prontos, até que ponto a imaginação encontra espaço para florescer?
Será que a magia da infância resistirá a inúmeras interferências tecnológicas? Será que ainda há espaço para brincadeiras espontâneas, para a invenção de histórias e para o inesperado?
Com sua pintura "Brincadeiras no Céu", Mônica Ruggiero nos provoca uma reflexão sobre essas questões e a valorizar o papel da imaginação nas crianças de hoje.

Há algo de profundamente comovente na forma como Mônica Ruggiero nos conduz, através de sua pintura, para um tempo que parece cada vez mais distante. "Brincadeiras no Céu" não é apenas uma cena de infância; é um respiro nostálgico em meio à atualização do mundo moderno.
A pintura com técnica óleo sobre tela, 60x80 cm, nos joga em uma rua de terra do interior paulista, onde a poeira levanta sob pés inquietos e o sol desenha sombras alongadas no chão avermelhado. Tudo ali remete a uma época em que as brincadeiras aconteciam sem roteiros prontos, sem a mediação de telas e algoritmos. O tempo não era cronometrado, as regras nasciam na hora, e a criatividade era a única tecnologia disponível.
No centro da composição, a cena ganha vida: crianças em plena efervescência lúdica, uma menina de vestido claro soprando bolhas de sabão que se dissolvem no ar com a mesma delicadeza com que surgiu. Mas o instante cotidiano logo se transforma em algo extraordinário. As bolinhas de gude, até então, desafiam a lógica: crescem, flutuam, se elevam ao céu. Em um jogo poético entre peso e leveza, a materialidade se dissolve, e o real cede espaço ao fantástico.
A explosão de cores: âmbar, azul-cobalto, verde-esmeralda, reforça a magia da cena. As bolinhas de gude e as bolhas de sabão coexistem em um balé de contrastes: o que é frágil e transitório dialoga com o que tem peso e permanência. Há um quê de sonho, mas também um questionamento sutil: essa liberdade de brincar, de imaginar sem limites, ainda é possível?
Mônica, nos provoca sem precisar de discursos óbvios. A pintura não se contenta em ser um retrato bucólico do passado, mas levanta um espelho para o presente. Se antes as crianças inventavam seus próprios mundos, hoje mundo esses chegam prontos, embalados em estímulos rápidos, formatados por telas que sugerem como brincar, como sentir, o que imaginar. Em um tempo onde a atenção se esvai tão rápido quanto uma notificação, qual o espaço para a fantasia espontânea?
A Pintura é um chamado à reflexão. A infância, em sua essência, continua ali, esperando um sopro de liberdade. Cabe a nós decidir se ainda há espaço para que ela voe.
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