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Passaporte para a Imortalidade - Paul Gauguin

A Arte é o espelho da nossa alma. Dorian Gray e Fausto retratam sonhos: beleza, prazer, sabedoria... Oscar Wilde e Goethe souberam captar nosso íntimo, retratar suas épocas e entraram para a História. Esse é o poder da folha, da partitura e da tela em branco. Elas não esperam apenas mais um texto, mais uma canção, mais um quadro. Diante delas, um inglês escreveu “Ser ou não ser”. Um alemão combinou quatro notas mágicas em sua 5ª. Sinfonia. E um italiano pintou um sorriso enigmático. Passaram-se os séculos. E Shakespeare, Beethoven e da Vinci seguem vivos e reverenciados. Nenhum deles planejou isso. Mas ao traduzirem suas almas em suas obras, conquistaram um passaporte para a imortalidade. Quando essa entrega acontece, o observador é conquistado. E aplaude um estilo, que buscará avidamente no próximo quadro. Até criar uma intimidade que lhe permita em segundos relacionar a obra ao autor.

Vamos conversar sobre alguns artistas e seus estilos inconfundíveis.

Hoje conosco, Paul Gauguin.




Do “Cristo Amarelo” às mulheres taitianas, Gauguin sempre soube combinar cores vibrantes e suaves. Afastou-se do Impressionismo e abriu novos caminhos, influenciando artistas como Matisse e Picasso. Então por quê ele divide opiniões até hoje? Qual a história de vida do autor dessas imagens paradisíacas?

Um dos gigantes do Pós-Impressionismo, Paul Gauguin (em Português pronuncia-se Gôgã) nasceu em Paris, em 1848. Passou parte de sua infância no Peru. A morte do pai na viagem, a volta à França e o tempo vivido como marinheiro foram seguidos de um período de relativa estabilidade em que ele casou, teve cinco filhos com sua esposa dinamarquesa e trabalhou como corretor da Bolsa de valores, pintando aos domingos.

Aos 35 anos, a quebra da Bolsa o leva a tentar a transformação do hobby dominical em sustento. Sem sucesso, deixa a família na Dinamarca e volta a Paris com seu filho Clóvis, de seis anos. Gauguin deixa o filho num internato, bancado por sua irmã. Na busca de uma arte mais “natural e autêntica” vai para o Taiti, onde se relaciona com nativas adolescentes. Uma delas engravida e ele a abandona. Mesmo voltando à ilha não quis revê-la ou ao filho. Buscando um ambiente ainda mais “selvagem”, deixa o Taiti e vai para as ilhas Marquesas, onde a solidão, a pobreza e a sífilis o acompanharão até a morte.

Ele incorporou a imagem do “bom selvagem” de Rousseau e dizia buscar sempre uma arte mais simples, mais pura. Para muitos, essa foi a desculpa de um escapista, que fugiu do exigente mercado artístico de Paris, abandonou a esposa, os filhos, a França e até mesmo o Taiti.


"O Cristo Amarelo" - 1889



Quando a Pintura ainda era um passatempo, Gauguin conviveu com os Impressionistas e isso guiou suas primeiras obras. As imagens coloridas da infância marcaram seu estilo. Seu “Cristo Amarelo” tornou-se obra fundamental do Simbolismo. No autorretrato, a ausência da perspectiva clássica antecipa um Cubismo distante. As cores vivas e chapadas confirmam a admiração por Degas e os contornos por linhas negras são influência da pintura japonesa, que ele associava à vida ao ar livre e ao sol sem sombras. O interesse pelas culturas não-europeias o levou ao Taiti, num retorno ao calor e à exuberância cromática dos trópicos.


Sua decepção foi descobrir que o paraíso idealizado já havia desaparecido. Bastou um século de colonização para que as doenças trazidas pelos europeus reduzissem a população original de 150 mil taitianos para 8 mil. E desses, apenas 10% professavam as religiões locais, já que a maioria foi “convertida” pelos missionários. As imagens de seu sonho de liberdade não emocionaram o público e a crítica na França. Ainda assim, ele acreditava no próprio talento e entendia o valor artístico de suas criações. As telas ásperas que utilizava eram, na verdade, europeias e o tecido é facilmente visível sob a tinta. O uso de tintas finas e a falta de recursos para comprar materiais mais elaborados reforçavam o caráter primitivo que ele buscava imprimir a suas obras.



"Mulher Flor"


Gauguin almejava um retorno triunfal ao voltar do Taiti. Mas ao desembarcar trazia nos bolsos apenas quatro francos. Em compensação, seu quadro “Quando você vai casar?” foi vendido em 2015 por 300 milhões de dólares.

Depois de sua morte, sua obra conseguiu, enfim, o reconhecimento devido. E ainda hoje se discute como separar o homem do artista. Um “selvagem” livre e pitoresco? Ou um colonizador falido e pervertido? Num tempo em que se questionam comportamentos do passado, há uma forte crítica dos que veem nele apenas mais um colonizador, um opressor, sem nenhum respeito pelas mulheres.


A passagem do tempo muda os costumes. Gauguin tem sido condenado.

E nós? Como seremos julgados daqui a alguns séculos?

Talvez num futuro próximo, a Humanidade não mate animais para se alimentar. Pode estar próximo um tempo em que a indiferença à miséria alheia seja considerada absurda. Assim como a complacência com a destruição do meio ambiente. Mesmo a violência física e verbal que nossa sociedade hoje tolera pode vir a ser, enfim, rejeitada e extinta. Pode ser que gerações futuras nos avaliem com desprezo.

Mas à parte o julgamento moral, Gauguin nos lega, além de sua obra, o exemplo da perseverança. Nunca abriu mão de sua certeza artística. E essa convicção no próprio talento, na própria arte, é o maior legado que ele poderia deixar a todos nós.

Artistas ou não.



"Arearea"



 
 

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