
A arte se revela em suas singularidades, muitas vezes nas pequenas sutilezas, nas surpresas que aparecem onde menos esperamos. Está no processo criativo, nas coisas do ateliê que parecem sem importância, mas que, de alguma maneira, deixam sua marca na obra e na exposição. Está na efemeridade de uma ideia, que surge e desaparece, mas que, ao deixar seu rastro, se torna algo indelével. São essas pequenas percepções, essas nuances, que nos atraem e nos capturam, como curadores, críticos e artistas, que buscamos encontrar o sentido, a verdade e a emoção por trás da expressão.
Recentemente, tive uma experiência que me marcou. Durante uma consultoria com uma artista, a conexão foi instantânea, como se já compartilhasse com ela uma linguagem silenciosa. Foi como se as palavras não fossem necessárias para entendermos a intensidade do que estava sendo criado. Esse é o poder do encontro: quando há troca genuína, a compreensão se torna quase intuitiva. É esse tipo de sintonia que nos permite enxergar a arte com mais profundidade, percebendo as diferenças como caminhos e não como fronteiras.
Nas exposições, é exatamente isso que vemos: a singularidade se revela em muitas formas. Às vezes, é através de um jogo de cores e formas que instigam e emocionam. Outras vezes, são conceitos que desafiam o habitual e provocam uma reflexão. A arte, em sua essência, pede para ser vista de diferentes ângulos. Às vezes, é preciso se permitir desmontar certezas e olhar para aquilo que parece simples, mas que, de repente, se torna uma descoberta.
Criar singularidades é justamente isso: captar traços únicos, seja na obra, na perspectiva do artista, na construção da narrativa ou na própria essência do processo criativo. Penso em nomes como Francis Bacon, que distorceu a figura humana para dar corpo à angústia existencial, ou Mark Rothko, cuja abstração cromática transcendia a tela e mergulhava o espectador em estados emocionais profundos. Também lembro de Jean-Michel Basquiat, que trouxe símbolos urbanos e referências culturais para dentro da pintura, criando uma linguagem visual inconfundível e revolucionária.
Ser artista no Brasil ainda é um desafio gigantesco. O sistema cultural impõe barreiras invisíveis e distribui espaços de forma desigual. Pequenos grupos conseguem se consolidar, muitos outros ficam à margem, sem chance de se posicionar e de criar seu próprio espaço. Mas acredito que a arte, precisa ser um território de emancipação. Um lugar onde todos, sem exceção, possam se expressar, experimentar e ocupar um espaço legítimo. Somente assim, conseguiremos construir um cenário artístico verdadeiramente plural e democrático.
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